O que é Zir-Fos®?

A flora intestinal pode ser fortalecida com a toma de probióticos e prebióticos. A associação dos dois resulta num simbiótico, como é o caso de Zir-Fos®.

Zir-Fos® é um simbiótico constituído por um probiótico (Bifidobacterium longum BB 536) e um prebiótico (fruto-oligossacáridos), para além de vitaminas do complexo B, disponível em saquetas de dose única diária.

Qual a sua composição?

Contribui para o bom funcionamento do organismo e equilíbrio da flora intestinal, as bifidobactérias impedem o crescimento de estirpes potencialmente patogénicas.

Trata-se de um hidrato de carbono não absorvível pelo organismo que estimula o crescimento das bifidobactérias, ao mesmo tempo que promove a redução de estirpes potencialmente patogénicas.

As vitaminas B1, B2, B6 e B12 presentes em quantidades equivalentes a 100% do valor Nutricional de Referência, tornam Zir-Fos® um suplemento alimentar simbiótico vitaminado.

Como atua e para que é indicado?

Em várias patologias gastrointestinais, a flora intestinal é já um alvo terapêutico, existindo estudos promissores de manipulação dietética com prebióticos, probióticos e simbióticos. Estes compostos podem prevenir ou minimizar algumas patologias intestinais, podendo também exercer uma ação benéfica para além do trato gastrointestinal.


Diarreia aguda infeciosa

A diarreia consiste num aumento do volume fecal, classicamente definido como mais de três dejeções de fezes moles ou líquidas por dia e/ou mais de 200 gramas de fezes por dia.

Classifica-se de acordo com a duração em aguda (<14 dias), persistente (15 a 30 dias) ou crónica (> 30 dias).

Existem múltiplas causas para a diarreia: funcional, inflamatória, infeciosa (bactérias, vírus e parasitas), associada a má absorção (doença celíaca, intolerância à lactose, doença de Whipple, amiloidose), secundária a fármacos, tumores ou doenças sistémicas (hipertiroidismo, diabetes mellitus, vírus da imunodeficiência humana adquirida).

É importante identificar a causa da diarreia para identificar o tratamento adequado.

A diarreia aguda é frequentemente de causa infeciosa e é autolimitada. O contexto epidemiológico é muito importante nesta patologia (ingestão de alimentos ou água potencialmente contaminados, várias pessoas próximas com a mesma sintomatologia, viagens a países em desenvolvimento).

A maioria das diarreias infeciosas são virais. A exceção é a diarreia que ocorre no contexto de uma viagem (chamada diarreia do viajante), em que a causa é maioritariamente bacteriana.

Perante a suspeita de uma diarreia infeciosa, podem ser pedidos exames das fezes como coproculturas, pesquisa de ovos quistos e parasitas e pesquisa da toxina do Clostridium difficile.

O tratamento da diarreia infeciosa inclui hidratação com água e sais minerais. Antidiarreicos podem ser utilizados em casos de diarreia sem sangue e na ausência de febre.

Os probióticos demonstraram benefício na diarreia infeciosa quer em crianças quer em adultos, ao reduzir a duração dos sintomas.

O tratamento com antibióticos é necessário apenas em algumas situações, uma vez que a maioria das diarreias infeciosas são de causa viral. Em crianças e adultos com sinais e sintomas de gravidade (febre, fezes com sangue) deve ser equacionada a administração de antibioterapia empírica, com colheita prévia de exames culturais das fezes. Grupos de risco, como pessoas imunossuprimidas, têm também indicação para antibioterapia.

Os cuidados de higiene, como a lavagem adequada das mãos, ajudam a evitar a propagação da infeção para outras pessoas e são essenciais no contexto de uma diarreia aguda. A lavagem das mãos deve ser realizada com água e sabão comum ou antibacteriano, durante 30 segundos, com especial cuidado à limpeza das unhas, entre os dedos e os punhos. As mãos devem ser secas com uma toalha de uso único. As soluções à base de álcool são boas alternativas para desinfeção das mãos.

Ref:
• Riddle MS, DuPont HL, Connor BA. ACG Clinical Guideline: Diagnosis, Treatment, and Prevention of Acute Diarrheal Infections in Adults. Am J Gastroenterol 2016;111:602
• Allen S.J. et al. Probiotics for treating infectious diarrhea. 2004 Cochrane Database Syst Rev 2: CD003048–CD003048

Diarreia associada ao uso de antibióticos

A diarreia associada aos antibióticos refere-se ao aparecimento de diarreia numa pessoa que está a tomar ou tomou recentemente antibióticos.

O tubo digestivo contém milhões de bactérias, denominadas de “flora normal”, que tem a função de proteger de infeções. Com a ingestão de antibióticos, estas bactérias boas vão ser eliminadas, ocorrendo um desequilíbrio na microbiota. Esse desequilíbrio leva diminuição da absorção de ácidos gordos de cadeia curta, com consequente diarreia osmótica. A eliminação das bactérias “boas” vai permitir que organismos potencialmente patogénicos como o Clostridium difficile se multiplique e liberte toxinas que vão provocar lesão na parede do intestino, com consequente diarreia, dor abdominal e febre.

A diarreia associada a C. difficile (também chamada colite pseudomembranosa) representa 10 a 20% dos casos de diarreia associada aos antibióticos. Dentro destas, representa a forma mais grave e é mais frequente em pessoas internadas. O C. difficile pode ser transmitido entre doentes através de objetos contaminados ou pelas mãos dos profissionais de saúde. Uma correta lavagem das mãos é fundamental para prevenir a propagação da infeção, sobretudo em meio hospitalar.

O tratamento da diarreia associada aos antibióticos inclui a suspensão, sempre que possível, do antibiótico envolvido. Meta-análises concluíram que a utilização de probióticos podem prevenir a diarreia associada a antibióticos em crianças e adultos, com redução até 50% da taxa de diarreia associada aos antibióticos. Para além desta eficácia, os probióticos são seguros, sem efeitos secundários reportados. A única situação de exceção é nos indivíduos imunocomprometidos, nos quais a sua utilização não é recomendada.

O tratamento da diarreia associada a C. difficile inclui antibióticos. A utilização de probióticos nestes casos é mais controversa.

Ref:
• Hempel, S; Newberry et al. Probiotics for the prevention and treatment of antibiotic-associated diarrhea: a systematic review and meta-analysis. JAMA 2012.307:1959–69. 
• Pillai, A; Nelson, R. Probiotics for treatment of Clostridium difficile-associated colitis in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews 2008: CD004611
• Doron, S. I.; Hibberd, P. L. et al. Probiotics for Prevention of Antibiotic-associated Diarrhea. J Clin Gastroenterol 2008. 42: S58–S63. 
• Surawicz, C. M. Role of Probiotics in Antibiotic-associated Diarrhea, Clostridium difficile-associated Diarrhea, and Recurrent Clostridium difficile-associated Diarrhea. J Clin Gastroenterol 2008. 42: S64–S70

Doença diverticular do cólon

Os divertículos consistem em “bolsas” na parede do cólon e desenvolvem-se em zonas de fragilidade da camada muscular decorrentes do aumento de pressão intraluminal e alterações estruturais da parede do cólon. Existe ainda uma alteração na microbiota (flora intestinal) destes doentes.

diverticulo

A diverticulose do cólon tem uma prevalência de 12 a 50% da população, é muito prevalente acima dos 70 anos e é igualmente prevalente entre os sexos. É mais frequente nas civilizações ocidentais e em países desenvolvidos, facto que está relacionado com dieta pobre em fibras e rica em carnes nestas regiões.

A maioria das pessoas com diverticulose do cólon são assintomáticas (80%). Quando existem sintomas, estes podem estar associados a complicações (diverticulite e hemorragia) ou não (denominada doença diverticular sintomática não complicada).

Os sintomas associados à diverticulose não complicada são dor abdominal, do lado esquerdo e inferior do abdómen e a distensão abdominal.

A diverticulose pode-se complicar de hemorragia ou inflamação (diverticulite). A diverticulite resulta da obstrução do divertículo por um fecalito, associado a aumento da proliferação bacteriana, redução do fluxo sanguíneo, erosão e perfuração do colon a nível do divertículo. A maioria destas perfurações são pequenas e ficam contidas pela gordura que envolve o cólon. Manifesta-se por dor intensa na fossa ilíaca esquerda, massa abdominal palpável e febre.

O diagnóstico de diverticulose é frequentemente realizado durante a realização de colonoscopia. Podem ainda ser identificados em exames de imagem (RX contrastado do cólon, TC abdominal e pélvica).

O tratamento está indicado na doença diverticular sintomática. Inclui aumento do consumo de fibras, fármacos antiespasmódicos, antibióticos não absorvíveis como a rifaximina (reduz o sobrecrescimento bacteriano). Alguns probióticos demonstraram também a sua eficácia na doença diverticular sintomática não complicada.

Ref:
• Tursi A, Papa A, et al. Review article: the pathophysiology and medical management of diverticulosis and diverticular disease of the colon. Alimentar Pharmacol Therap 2015; 42:664–84
• Scarpignato C et al. Management of colonic diverticular disease in the third millennium: Highlights from a symposium held during the United European Gastroenterology Week 2017. Therap Adv Gastroenterol 2018. doi: 10.1177/1756284818771305.

Obstipação

A obstipação consiste numa redução do número de dejeções, num aumento da consistência das fezes ou num aumento do esfoço para evacuar.

Existe uma escala - a escala da forma fecal de Bristol – que é útil para avaliar os hábitos intestinais. As fezes tipo 1 e 2 na escala de Bristol são compatíveis com obstipação.

escala_fecal_Bristol

Em relação à causa da obstipação, existem dois grupos principais:

Obstipação Funcional – caracterizada pelos critérios de Roma IV e consiste na presença de sintomas em pelo menos 3 meses nos últimos 6 meses, em 25% das evacuações a presença de 2 ou mais dos seguintes: esforço a evacuar, sensação de evacuação incompleta, necessidade de manobras digitais, fezes duras, menos de 3 dejeções por semana. A obstipação funcional pode estar associada a trânsito normal, trânsito lento ou a disfunção do pavimento pélvico.

Obstipação Secundária – associada a outras causas como mecânicas (neoplasias, estenoses benignas), fármacos (antidepressivos, opióides, cálcio, ferro, bloqueadores dos canais de cálcio) ou a outras patologias como diabetes mellitus, hipotiroidismo, doenças neurológicas, doença de Hirschsprung.

O diagnóstico de obstipação é clínico, baseando-se na presença dos sintomas referidos e na exclusão de causas secundárias.

O tratamento inclui exercício, líquidos, dieta com aumento de fibras insolúveis e laxantes (osmóticos, estimulantes) ou enemas.

Na presença de disfunção do pavimento pélvico, a fisioterapia (biofeedback) pode ser uma estratégia eficaz.

Ref:
• Rome IV-Functional GI Disorders: Disorders of Gut-Brain Interaction. Drossman DA, Hasler WL. Gastroenterology 2016; 150:1257-61

Síndrome do intestino irritável

A síndrome do intestino irritável (SII) define-se pela presença dor abdominal associada a alteração do trânsito intestinal (diarreia ou obstipação).

A SII é uma entidade muito frequente, estimando-se que afete 10% da população, com predomínio do sexo feminino. Tem uma evolução benigna, com sobrevida semelhante à população em geral. Apesar de não existirem complicações a longo prazo, a SII está associada a diminuição significativa da qualidade de vida, com absentismo laboral, consumo de recursos de saúde como consultas e exames.

A causa da SII não é completamente conhecida, mas sabe-se que vários fatores contribuem como alteração da motilidade, hipersensibilidade visceral (aumento da perceção da dor), aumento da permeabilidade visceral, sobrecrescimento bacteriano, predisposição genética ou o stress.

A SII manifesta-se por dor abdominal (presente em todos os casos) e alteração dos hábitos intestinais (diarreia, obstipação, ou ambas em alternância). A dor abdominal é muito variável em intensidade e localização e está associada com a defecação, podendo agravar ou aliviar. As refeições e o stress podem exacerbar a dor.

O diagnóstico de SII requer a presença de um conjunto de critérios (critérios de Roma IV) e uma avaliação dirigida para excluir doença orgânica. Os critérios de Roma IV para diagnóstico de SII são os seguintes: dor abdominal recorrente frequente (um dia por semana nos últimos três meses), associada a dois dos três:
   i) relacionada com as defecações
   ii) associada a alteração da consistência das fezes
   iii) associada a alteração da frequência das defecações.

Existem quatro subtipos principais de SII: SII com predomínio de diarreia (SII-D), SII com predomínio de obstipação (SII-C), SII misto (SII-M) e SII não classificado (SII-U), quando os doentes preenchem critérios de SII mas os hábitos intestinais não podem ser categorizados em nenhum dos três grupos acima descritos.

A exclusão de causas orgânicas (cancro colorretal, doença inflamatória do intestino) é obrigatória em doentes com sintomatologia sugestiva de síndrome de intestino irritável, mas com presença de sinais de alarme nomeadamente:
   • início dos sintomas acima dos 50 anos
   • perda de peso
   • sangue nas fezes
   • diarreia noturna
   • dor de agravamento progressivo
   • massa abdominal
   • alterações laboratoriais (anemia, PCR ou calprotectina fecal aumentadas)

A abordagem da SII passa por explicar ao doente a benignidade da situação. O estabelecimento de uma boa relação médico doente é fundamental nesta entidade, estando associada a melhoria dos sintomas.

A dieta pode ter um papel importante. O aumento de fibra solúvel, a redução de lacticínios ou alimentos ricos em FODMAPS (acrónimo de Fermentable Oligossacharides, Dissacharides, Monossacharides And PoliolS), isto é, fibras não absorvíveis.

A terapêutica farmacológica inclui anticolinérgicos (butilescopolamina, mebeverina) na SII-dor, laxantes na SII-obstipação, antidiarreicos no SII-diarreia. Alguns probióticos têm demonstrado melhoria dos sintomas da SII-dor. A rifaximina, um antibiótico não absorvível, demonstrou ser eficaz numa variedade de sintomas da SII como a dor, a flatulência e a consistência das fezes e a sua eficácia persistiu após o final do tratamento.

Os ansiolíticos como a amitriptilina em dose baixa (SII-dor), os IRSS como a sertralina ou fluoxetina (SII-obstipação) ou a trazodona (SII-diarreia) estão indicados em casos mais graves ou que não respondem às medidas terapêuticas instituídas. A psicoterapia também poderá estar indicada.

Ref:
• Rome IV-Functional GI Disorders: Disorders of Gut-Brain Interaction. Drossman DA, Hasler WL. Gastroenterology 2016; 150:1257-61
• Halmos EP, Power VA, Shepherd SJ, et al. A diet low in FODMAPs reduces symptoms of irritable bowel syndrome
• Pimentel M et al. Rifaximin Therapy for Patients with Irritable Bowel Syndrome without Constipation. N Engl J Med 2011; 364:22-32
• Dai C et al. Probiotics and irritable bowel syndrome. World J Gastroenterol 2013 Sep 28;19:5973–5980

A diarreia consiste num aumento do volume fecal, classicamente definido como mais de três dejeções de fezes moles ou líquidas por dia e/ou mais de 200 gramas de fezes por dia.

Classifica-se de acordo com a duração em aguda (<14 dias), persistente (15 a 30 dias) ou crónica (> 30 dias).

Existem múltiplas causas para a diarreia: funcional, inflamatória, infeciosa (bactérias, vírus e parasitas), associada a má absorção (doença celíaca, intolerância à lactose, doença de Whipple, amiloidose), secundária a fármacos, tumores ou doenças sistémicas (hipertiroidismo, diabetes mellitus, vírus da imunodeficiência humana adquirida).

É importante identificar a causa da diarreia para identificar o tratamento adequado.

A diarreia aguda é frequentemente de causa infeciosa e é autolimitada. O contexto epidemiológico é muito importante nesta patologia (ingestão de alimentos ou água potencialmente contaminados, várias pessoas próximas com a mesma sintomatologia, viagens a países em desenvolvimento).

A maioria das diarreias infeciosas são virais. A exceção é a diarreia que ocorre no contexto de uma viagem (chamada diarreia do viajante), em que a causa é maioritariamente bacteriana.

Perante a suspeita de uma diarreia infeciosa, podem ser pedidos exames das fezes como coproculturas, pesquisa de ovos quistos e parasitas e pesquisa da toxina do Clostridium difficile.

O tratamento da diarreia infeciosa inclui hidratação com água e sais minerais. Antidiarreicos podem ser utilizados em casos de diarreia sem sangue e na ausência de febre.

Os probióticos demonstraram benefício na diarreia infeciosa quer em crianças quer em adultos, ao reduzir a duração dos sintomas.

O tratamento com antibióticos é necessário apenas em algumas situações, uma vez que a maioria das diarreias infeciosas são de causa viral. Em crianças e adultos com sinais e sintomas de gravidade (febre, fezes com sangue) deve ser equacionada a administração de antibioterapia empírica, com colheita prévia de exames culturais das fezes. Grupos de risco, como pessoas imunossuprimidas, têm também indicação para antibioterapia.

Os cuidados de higiene, como a lavagem adequada das mãos, ajudam a evitar a propagação da infeção para outras pessoas e são essenciais no contexto de uma diarreia aguda. A lavagem das mãos deve ser realizada com água e sabão comum ou antibacteriano, durante 30 segundos, com especial cuidado à limpeza das unhas, entre os dedos e os punhos. As mãos devem ser secas com uma toalha de uso único. As soluções à base de álcool são boas alternativas para desinfeção das mãos.

Ref:
• Riddle MS, DuPont HL, Connor BA. ACG Clinical Guideline: Diagnosis, Treatment, and Prevention of Acute Diarrheal Infections in Adults. Am J Gastroenterol 2016;111:602
• Allen S.J. et al. Probiotics for treating infectious diarrhea. 2004 Cochrane Database Syst Rev 2: CD003048–CD003048

A diarreia associada aos antibióticos refere-se ao aparecimento de diarreia numa pessoa que está a tomar ou tomou recentemente antibióticos.

O tubo digestivo contém milhões de bactérias, denominadas de “flora normal”, que tem a função de proteger de infeções. Com a ingestão de antibióticos, estas bactérias boas vão ser eliminadas, ocorrendo um desequilíbrio na microbiota. Esse desequilíbrio leva diminuição da absorção de ácidos gordos de cadeia curta, com consequente diarreia osmótica. A eliminação das bactérias “boas” vai permitir que organismos potencialmente patogénicos como o Clostridium difficile se multiplique e liberte toxinas que vão provocar lesão na parede do intestino, com consequente diarreia, dor abdominal e febre.

A diarreia associada a C. difficile (também chamada colite pseudomembranosa) representa 10 a 20% dos casos de diarreia associada aos antibióticos. Dentro destas, representa a forma mais grave e é mais frequente em pessoas internadas. O C. difficile pode ser transmitido entre doentes através de objetos contaminados ou pelas mãos dos profissionais de saúde. Uma correta lavagem das mãos é fundamental para prevenir a propagação da infeção, sobretudo em meio hospitalar.

O tratamento da diarreia associada aos antibióticos inclui a suspensão, sempre que possível, do antibiótico envolvido. Meta-análises concluíram que a utilização de probióticos podem prevenir a diarreia associada a antibióticos em crianças e adultos, com redução até 50% da taxa de diarreia associada aos antibióticos. Para além desta eficácia, os probióticos são seguros, sem efeitos secundários reportados. A única situação de exceção é nos indivíduos imunocomprometidos, nos quais a sua utilização não é recomendada.

O tratamento da diarreia associada a C. difficile inclui antibióticos. A utilização de probióticos nestes casos é mais controversa.

Ref:
• Hempel, S; Newberry et al. Probiotics for the prevention and treatment of antibiotic-associated diarrhea: a systematic review and meta-analysis. JAMA 2012.307:1959–69. 
• Pillai, A; Nelson, R. Probiotics for treatment of Clostridium difficile-associated colitis in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews 2008: CD004611
• Doron, S. I.; Hibberd, P. L. et al. Probiotics for Prevention of Antibiotic-associated Diarrhea. J Clin Gastroenterol 2008. 42: S58–S63. 
• Surawicz, C. M. Role of Probiotics in Antibiotic-associated Diarrhea, Clostridium difficile-associated Diarrhea, and Recurrent Clostridium difficile-associated Diarrhea. J Clin Gastroenterol 2008. 42: S64–S70

Os divertículos consistem em “bolsas” na parede do cólon e desenvolvem-se em zonas de fragilidade da camada muscular decorrentes do aumento de pressão intraluminal e alterações estruturais da parede do cólon. Existe ainda uma alteração na microbiota (flora intestinal) destes doentes.

diverticulo

A diverticulose do cólon tem uma prevalência de 12 a 50% da população, é muito prevalente acima dos 70 anos e é igualmente prevalente entre os sexos. É mais frequente nas civilizações ocidentais e em países desenvolvidos, facto que está relacionado com dieta pobre em fibras e rica em carnes nestas regiões.

A maioria das pessoas com diverticulose do cólon são assintomáticas (80%). Quando existem sintomas, estes podem estar associados a complicações (diverticulite e hemorragia) ou não (denominada doença diverticular sintomática não complicada).

Os sintomas associados à diverticulose não complicada são dor abdominal, do lado esquerdo e inferior do abdómen e a distensão abdominal.

A diverticulose pode-se complicar de hemorragia ou inflamação (diverticulite). A diverticulite resulta da obstrução do divertículo por um fecalito, associado a aumento da proliferação bacteriana, redução do fluxo sanguíneo, erosão e perfuração do colon a nível do divertículo. A maioria destas perfurações são pequenas e ficam contidas pela gordura que envolve o cólon. Manifesta-se por dor intensa na fossa ilíaca esquerda, massa abdominal palpável e febre.

O diagnóstico de diverticulose é frequentemente realizado durante a realização de colonoscopia. Podem ainda ser identificados em exames de imagem (RX contrastado do cólon, TC abdominal e pélvica).

O tratamento está indicado na doença diverticular sintomática. Inclui aumento do consumo de fibras, fármacos antiespasmódicos, antibióticos não absorvíveis como a rifaximina (reduz o sobrecrescimento bacteriano). Alguns probióticos demonstraram também a sua eficácia na doença diverticular sintomática não complicada.

Ref:
• Tursi A, Papa A, et al. Review article: the pathophysiology and medical management of diverticulosis and diverticular disease of the colon. Alimentar Pharmacol Therap 2015; 42:664–84
• Scarpignato C et al. Management of colonic diverticular disease in the third millennium: Highlights from a symposium held during the United European Gastroenterology Week 2017. Therap Adv Gastroenterol 2018. doi: 10.1177/1756284818771305.

A obstipação consiste numa redução do número de dejeções, num aumento da consistência das fezes ou num aumento do esfoço para evacuar.

Existe uma escala - a escala da forma fecal de Bristol – que é útil para avaliar os hábitos intestinais. As fezes tipo 1 e 2 na escala de Bristol são compatíveis com obstipação.

escala_fecal_Bristol

Em relação à causa da obstipação, existem dois grupos principais:

Obstipação Funcional – caracterizada pelos critérios de Roma IV e consiste na presença de sintomas em pelo menos 3 meses nos últimos 6 meses, em 25% das evacuações a presença de 2 ou mais dos seguintes: esforço a evacuar, sensação de evacuação incompleta, necessidade de manobras digitais, fezes duras, menos de 3 dejeções por semana. A obstipação funcional pode estar associada a trânsito normal, trânsito lento ou a disfunção do pavimento pélvico.

Obstipação Secundária – associada a outras causas como mecânicas (neoplasias, estenoses benignas), fármacos (antidepressivos, opióides, cálcio, ferro, bloqueadores dos canais de cálcio) ou a outras patologias como diabetes mellitus, hipotiroidismo, doenças neurológicas, doença de Hirschsprung.

O diagnóstico de obstipação é clínico, baseando-se na presença dos sintomas referidos e na exclusão de causas secundárias.

O tratamento inclui exercício, líquidos, dieta com aumento de fibras insolúveis e laxantes (osmóticos, estimulantes) ou enemas.

Na presença de disfunção do pavimento pélvico, a fisioterapia (biofeedback) pode ser uma estratégia eficaz.

Ref:
• Rome IV-Functional GI Disorders: Disorders of Gut-Brain Interaction. Drossman DA, Hasler WL. Gastroenterology 2016; 150:1257-61

A síndrome do intestino irritável (SII) define-se pela presença dor abdominal associada a alteração do trânsito intestinal (diarreia ou obstipação).

A SII é uma entidade muito frequente, estimando-se que afete 10% da população, com predomínio do sexo feminino. Tem uma evolução benigna, com sobrevida semelhante à população em geral. Apesar de não existirem complicações a longo prazo, a SII está associada a diminuição significativa da qualidade de vida, com absentismo laboral, consumo de recursos de saúde como consultas e exames.

A causa da SII não é completamente conhecida, mas sabe-se que vários fatores contribuem como alteração da motilidade, hipersensibilidade visceral (aumento da perceção da dor), aumento da permeabilidade visceral, sobrecrescimento bacteriano, predisposição genética ou o stress.

A SII manifesta-se por dor abdominal (presente em todos os casos) e alteração dos hábitos intestinais (diarreia, obstipação, ou ambas em alternância). A dor abdominal é muito variável em intensidade e localização e está associada com a defecação, podendo agravar ou aliviar. As refeições e o stress podem exacerbar a dor.

O diagnóstico de SII requer a presença de um conjunto de critérios (critérios de Roma IV) e uma avaliação dirigida para excluir doença orgânica. Os critérios de Roma IV para diagnóstico de SII são os seguintes: dor abdominal recorrente frequente (um dia por semana nos últimos três meses), associada a dois dos três:
   i) relacionada com as defecações
   ii) associada a alteração da consistência das fezes
   iii) associada a alteração da frequência das defecações.

Existem quatro subtipos principais de SII: SII com predomínio de diarreia (SII-D), SII com predomínio de obstipação (SII-C), SII misto (SII-M) e SII não classificado (SII-U), quando os doentes preenchem critérios de SII mas os hábitos intestinais não podem ser categorizados em nenhum dos três grupos acima descritos.

A exclusão de causas orgânicas (cancro colorretal, doença inflamatória do intestino) é obrigatória em doentes com sintomatologia sugestiva de síndrome de intestino irritável, mas com presença de sinais de alarme nomeadamente:
   • início dos sintomas acima dos 50 anos
   • perda de peso
   • sangue nas fezes
   • diarreia noturna
   • dor de agravamento progressivo
   • massa abdominal
   • alterações laboratoriais (anemia, PCR ou calprotectina fecal aumentadas)

A abordagem da SII passa por explicar ao doente a benignidade da situação. O estabelecimento de uma boa relação médico doente é fundamental nesta entidade, estando associada a melhoria dos sintomas.

A dieta pode ter um papel importante. O aumento de fibra solúvel, a redução de lacticínios ou alimentos ricos em FODMAPS (acrónimo de Fermentable Oligossacharides, Dissacharides, Monossacharides And PoliolS), isto é, fibras não absorvíveis.

A terapêutica farmacológica inclui anticolinérgicos (butilescopolamina, mebeverina) na SII-dor, laxantes na SII-obstipação, antidiarreicos no SII-diarreia. Alguns probióticos têm demonstrado melhoria dos sintomas da SII-dor. A rifaximina, um antibiótico não absorvível, demonstrou ser eficaz numa variedade de sintomas da SII como a dor, a flatulência e a consistência das fezes e a sua eficácia persistiu após o final do tratamento.

Os ansiolíticos como a amitriptilina em dose baixa (SII-dor), os IRSS como a sertralina ou fluoxetina (SII-obstipação) ou a trazodona (SII-diarreia) estão indicados em casos mais graves ou que não respondem às medidas terapêuticas instituídas. A psicoterapia também poderá estar indicada.

Ref:
• Rome IV-Functional GI Disorders: Disorders of Gut-Brain Interaction. Drossman DA, Hasler WL. Gastroenterology 2016; 150:1257-61
• Halmos EP, Power VA, Shepherd SJ, et al. A diet low in FODMAPs reduces symptoms of irritable bowel syndrome
• Pimentel M et al. Rifaximin Therapy for Patients with Irritable Bowel Syndrome without Constipation. N Engl J Med 2011; 364:22-32
• Dai C et al. Probiotics and irritable bowel syndrome. World J Gastroenterol 2013 Sep 28;19:5973–5980

Posologia
e modo de
administração

  • Tomar uma saqueta por dia.
  • 1. Colocar o conteúdo de uma saqueta em cerca de 1/4 de um copo de água ou leite.
  • 2. Misturar e tomar imediatamente após a preparação, de preferência entre as refeições.

A flora intestinal

As bactérias do intestino são invisíveis
mas indispensáveis ao bem-estar
e saúde humana

A flora intestinal ou microbiota intestinal é o nome dado à população de microrganismos que vive no intestino.

A flora intestinal foi considerada pelos especialistas um orgão microbiano uma vez que o seu bom funcionamento é determinante na saúde e bem-estar.


Factos & números

A nossa flora intestinal é composta por:

Dezenas de

biliões

de MICROR-
GANISMOS

1000

espécies

diferentes

de BACTÉRIAS

conhecidas

3

milhões de GENES

150 mais do que os genes humanos

95%

das BACTÉRIAS estão localizadas no trato intestinal,

que equivale ao tamanho de dois campos de ténis (400 m2).

A FLORA INTESTINAL pode pesar até 2 kg
A composição da flora intestinal é influenciada pelo meio ambiente e alimentação e pode também influenciar algumas condições mentais como a ansiedade e o stress.

Funções da flora intestinal

A flora intestinal exerce diversas e importantes funções fisiológicas:

A flora intestinal ao longo da vida

A MICROBIOTA INTESTINAL EVOLUI AO LONGO DA VIDA, PODENDO O SEU EQUILÍBRIO SER AFETADO DURANTE O ENVELHECIMENTO.

É no momento do nascimento

que se dá o primeiro contacto com as bactérias da mãe e do meio ambiente.

As bactérias intestinais são uma fonte de nutrientes e vitaminas para uma criança em crescimento. Os microrganismos intestinais são capazes de interagir com processos celulares normais para, por exemplo, produzir aminoácidos essenciais.

Aos 3 anos de idade,

a flora intestinal torna-se estável e semelhante à de um adulto, continuando a sua evolução ao logo da vida.

O papel individual que os microrganismos intestinais desempenham no metabolismo, imunidade e até mesmo no comportamento, é uma área ativa e atual de investigação.

Ao longo do processo de envelhecimento

o equilíbrio da flora intestinal altera-se, e consequentemente a flora intestinal dos idosos é diferente da dos jovens adultos.

O equilíbrio da microbiota intestinal pode ser afetado durante o processo de envelhecimento, resultando em diversidade microbiana reduzida e no aumento da inflamação.

Os probióticos e os simbióticos
na alimentação podem modular
o sistema imunitário.

A alimentação e a flora intestinal

A alimentação exerce um profundo efeito sobre a flora intestinal

Conhecendo-se as divergências marcadas na flora intestinal de diferentes populações étnicas, um estudo comparou a microbiota fecal de crianças europeias, na maioria alimentadas com uma dieta ocidental moderna, com a microbiota de crianças provenientes de uma aldeia africana, praticando principalmente uma dieta rica em fibras.

Nestas crianças, foi detetado um enriquecimento da diversidade microbiana e a proteção potencial contra a inflamação e doenças não infeciosas do cólon.

Por outro lado, a dieta ocidental rica em gorduras/baixa em fibras promove o crescimento de agentes patogénicos gram-negativos, contribuindo para uma cascata inflamatória que precede o desenvolvimento de resistência à insulina, obesidade e diabetes mellitus.

O estilo de vida moderno e a dieta ocidental levaram a um esgotamento substancial da diversidade da flora intestinal, o que está ligado a muitas doenças não transmissíveis (DNTs).

O desequilíbrio da flora intestinal: disbiose

A disbiose é a designação dada ao desequilíbrio da flora intestinal, isto é, da população de microrganismos que vive no nosso intestino.

A flora intestinal cumpre diversas funções importantes para o organismo. Um desequilíbrio no seu funcionamento pode comprometer a digestão, inibir a produção das vitaminas B e K e promover o crescimento de microrganismos potencialmente patogénicos. Acredita-se que a disbiose intestinal desempenha um papel em muitas doenças crónicas e degenerativas.

Sintomas

  • Flatulência (acumulação de gás no estômago ou intestino);
  • Alteração do ritmo intestinal normal;
  • Dor abdominal;
  • Distensão (inchaço) abdominal;
  • Obstipação e/ou diarreia.

Possíveis causas

Antibióticos

O uso de antibióticos é a causa mais comum de alterações na microbiota intestinal. Estes fármacos devem ser usados com moderação e selecionados com cuidado a fim de minimizar o impacto sobre a microbiota intestinal e a saúde.

Stress

O stresse pode alterar o funcionamento gastrointestinal e a microbiota, incluindo diminuir a quantidade de bactérias benéficas, como lactobacilos e bifidobactérias, e aumentar o número de microrganismos patogénicos, como E. coli.

Infeções intestinais

Após um episódio de infeção intestinal, como a diarreia do viajante, cerca de 8 a 15% dos doentes relatam persistência dos sintomas de disbiose, a chamada síndrome do intestino irritável (SII).

Consultório da Drª. Biota

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MARIA BIOTA
Embaixadora do bem-estar do intestino

1. Karlsson F, et al. Diabetes October 2013 vol.62 no. 10 3341-3349

2. Folheto informativo de ZIR-FOS®

3. FMicroBiota NEWS2_160408

4. http://www.gutmicrobiotaforhealth.com/en/about-gut-microbiota-info/

5. Jason A. Hawrelak et al. The Causes of Intestinal Dysbiosis: A Review. Altern Med Rev 2004;9(2):180-197

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8. Davide Festi, et al. World J Gastroenterol. 2014 Nov 21; 20 (43): 16079-16094.

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